A comunicação oral, intitulada “Combination of mitoxantrone hydrochloride liposome with pegaspargase in patients with extranodal NK/T-cell lymphoma: A phase I/II clinical trial”, foi apresentada na sessão “Haematological malignancies” por Yunhong Huang. Segundo esclareceu a Prof.ª Doutora Maria Gomes da Silva, este ensaio de fase 1/2 avaliou a combinação de doses crescentes da formulação lipossómica de mitoxantrona com asparaginase peguilada – “um fármaco relevante no tratamento deste tipo de linfomas”.
Os Linfomas de células T/NK, tipo nasal (LNKTN) “são raros no Ocidente, mas frequentes no Extremo Oriente, na América Central e na América do Sul”. “Este ensaio, conduzido por uma equipa de uma Universidade chinesa, incluiu 31 doentes, maioritariamente não pré-tratados. Na fase inicial do ensaio foi definida a dose que deveria ser explorada na fase de expansão do grupo, em combinação com a asparaginase peguilada”, explicou a diretora do Serviço de Hematologia do IPO de Lisboa.
Em comentário a este trabalho, a especialista indica que “a tolerância parece aceitável com estes regimes que incluem a asparaginase em adultos e doentes mais velhos”. “No Ocidente o pico de incidência desta doença acontece mais tarde do que na Ásia. Os autores consideraram que a toxicidade era aceitável, tendo havido apenas um caso de morte atribuível a toxicidade. As toxicidades foram predominantemente hematológicas”, acrescentou a Prof.ª Doutora Maria Gomes da Silva. Ainda que “a eficácia pareça promissora”, a especialista considera que a amostra de doentes (n=31) e o tempo de acompanhamento relativamente curto não permitem retirar conclusões definitivas. A propósito da eficácia, a especialista indicou que, neste trabalho, observaram-se “taxas de remissão completa de 68% em doentes sem exposição anterior à terapêutica”.
O trabalho “Incidence of cardiovascular disease in Swedish healthy blood stem cell donors”, apresentado por Simon Pahnke (Suécia), avaliou “a incidência de doenças cardiovasculares em 1098 dadores saudáveis de células progenitoras circulantes, bem como a de controlos saudáveis, dadores de medula óssea e irmãos dos dadores saudáveis”. Este trabalho, que “aproveitou os dados de três registos suecos”, procurou avaliar a cardiotoxicidade do fator de crescimento (G-CSF), ou seja, “a incidência de complicações cardiovasculares e, por isso, o impacto sobre a segurança da dádiva de células progenitoras do sangue periférico, mobilizadas com fatores de crescimento em dadores saudáveis”.
“Não havia dados da literatura muito consistentes, nem a favor, nem contra esta toxicidade”, assinalou a Prof.ª Doutora Maria Gomes da Silva, lembrando que Simon Pahnke avaliou, de 1998 a 2014, a incidência de novos diagnósticos de doença cardiovascular numa amostra de 1098 dadores. Neste estudo, Simon Pahnke não conseguiu demonstrar uma incidência aumentada de doença cardiovascular a longo prazo em dadores saudáveis, após a utilização de G-CSF, por comparação com as populações controlo do estudo.
“Orelabrutinib plus RCHOP for previously untreated non-germinal center b cell-like (GCB) diffuse large b cell lymphoma (DLBCL) patients with extranodal disease” é o título de um outro trabalho, apresentado nesta sessão da ESMO, que incluiu uma amostra de 22 doentes, com linfoma não-Hodgkin B difuso de grandes células (LBDGC) do centro não-germinativo, com um fator adicional de mau prognóstico: mais de uma localização extranodal.
Neste estudo, Mingyue Wang (China) e colegas adicionaram à terapêutica convencional com R-CHOP um inibidor da tirosina cinase de Bruton (orelabrutinib), aprovado na China para o tratamento de Linfomas do Manto e da Leucemia Linfocítica Crónica. “Este fármaco recebeu, por parte da FDA, a designação de breakthrough para o Linfoma do Manto”, comentou a Prof.ª Doutora Maria Gomes da Silva.
Embora os resultados tenham sido vantajosos com a adição do iBTK, a Prof.ª Doutora Maria Gomes da Silva considera “não ser possível tirar conclusões finais”, dado que a amostra e o tempo de acompanhamento são limitados e “não permitem determinar a eficácia real deste esquema de tratamento”. “A taxa de respostas foi elevada (87%), embora, num subgrupo de doentes, tenha chegado aos 90%. As taxas de resposta completa foram de 77%. Temos de ter alguma cautela na interpretação destes dados, por haver alguma seleção de doentes: na verdade, eram doentes jovens à data de início da terapêutica, com mediana de idade de 52 anos. Esta não é a mediana de idades de LBDGC que nós vemos e tratamos mundo ocidental”, advertiu a hematologista.